terça-feira, 10 de março de 2009

TEOLOGIA DA LATA DE NESCÁU

Certa vez, li um livro interessante com um título curioso: A teologia do cachorro e do gato. Nele, os autores fazem comparação entre as atitudes desses dois animais em relação aos donos (o gato, manhoso, queria se satisfazer, enquanto que o cão, leal, queria agradar) e nosso relacionamento com o nosso Dono.

Achei a analogia dos autores muito interessante, e fiquei pensando se é possível criar “teologias” a partir de coisas cotidianas, como, no caso, dos animais domésticos. Até que, um dia, eu tive um estalo, a partir da brincadeira de minhas filhas pequenas.

Crianças (e alguns adultos) gostam muito de fazer barulho. A coisa que elas mais apreciam é fazer uma batucadinha. Minhas meninas gostam de pegar latas vazias de alumínio, dessas de Nescau, e fazer uma bateria improvisada. Vendo aquela lata de Nescau agredindo meus ouvidos, comecei a formular a teologia da lata de Nescau.

Todos sabem como é a lata de Nescau. O alumínio faz um barulho danado se batermos nele. Mas a lata de Nescau só faz barulho se estiver vazia. Experimente fazer batucada em uma lata de Nescau cheia, de preferência lacrada, que você acabou de comprar no supermercado. O som que sairá é mínimo, comparado com uma lata vazia.

Na minha caminhada com Jesus, tenho visto muita “lata de Nescau vazia” nos templos. Pode reparar. É gente oca de vida, sem conteúdo, sem relacionamento sadio e santo com Deus, mas, que no entanto, faz um barulho danado. O barulho que fazem, na verdade, não é para atrair a atenção para o Senhor, mas sim para si mesmos. Quanto mais vazios, mais barulhentos.

Felizmente há também muita “lata de Nescau cheia”. Gente que não atrai a atenção para si, e sim para o seu conteúdo – a vida de Deus neles. Gente que não se importa com holofotes, gente com um relacionamento com Deus baseado na Graça. O conteúdo de suas vidas ocupa todo o espaço, não deixando que chamem a atenção para si, e nem precisam. Naturalmente eles exalam aquilo que Paulo classificou de bom perfume de Cristo (2 Co 2.15).

Quando vamos a um supermercado, não nos interessamos pela embalagem. Queremos saber se o conteúdo do produto é bom, se satisfaz as nossas necessidades. Tanto é que, quando o produto acaba, jogamos a embalagem fora. Uma lata de Nescau vazia só terá utilidade se for reutilizada para outros fins (guardar quinquilharias, como pregos enferrujados, por exemplo). Caso contrário, o seu destino é a lata de lixo. O que queremos, portanto, é o conteúdo, e não o invólucro.

Não é à toa que a Bíblia nos exorta tanto a estarmos cheios do Espírito (Ef 5.18), tendo em nossas mentes somente aquilo que presta (Fp 4.8). Na medida em que nosso conteúdo for o de Deus, despertaremos a atenção para Deus, e poderemos realizar o nosso papel de sal da terra e luz do mundo.

Porém, se estivermos vazios, seremos como o sal insípido, que só serve para calçamento (Mt 5.13), ou seja, ser pisado (outro termo poderia ser “humilhado”) pelos homens. E, no final, ser jogado no lixo da história.

Fica, então, a admoestação de Deus: viva cheio de Deus. Busque-O sempre (Is 55.6). Molde seus padrões em conformidade aos dEle, e não tente fazer o contrário (Rm 12.1, 2). Enfim: seja uma lata de Nescau cheia, plena, e não uma lata vazia, barulhenta e sem significado.

sexta-feira, 14 de março de 2008

CANSEI

Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensina que Deus restaura as forças do que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista. Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.

Não, não me afadiguei com Deus ou com minha vocação. Continuo entusiasmado pelo que faço; amo o meu Deus, bem como minha família e amigos. Permaneço esperançoso. Minha fadiga nasce de outras fontes.

Canso com o discurso repetitivo e absurdo dos que mercadejam a Palavra de Deus. Já não agüento mais que se usem versículos tirados do Antigo Testamento e que se aplicavam a Israel para vender ilusões aos que lotam as igrejas em busca de alívio. Essa possibilidade mágica de reverter uma realidade cruel me deixa arrasado porque sei que é uma propaganda enganosa. Cansei com os programas de rádio em que os pastores não anunciam mais os conteúdos do evangelho; gastam o tempo alardeando as virtudes de suas próprias instituições. Causa tédio tomar conhecimento das infinitas campanhas e correntes de oração; todas visando exclusivamente encher os seus templos. Considero os amuletos evangélicos horríveis. Cansei de ter de explicar que há uma diferença brutal entre a fé bíblica e as crendices supersticiosas.

Canso com a leitura simplista que algumas correntes evangélicas fazem da realidade. Sinto-me triste quando percebo que a injustiça social é vista como uma conspiração satânica, e não como fruto de uma construção social perversa. Não consideram os séculos de preconceitos nem que existe uma economia perversa privilegiando as elites há séculos. Não agüento mais cultos de amarrar demônios ou de desfazer as maldições que pairam sobre o Brasil e o mundo.

Canso com a repetição enfadonha das teologias sem criatividade nem riqueza poética. Sinto pena dos teólogos que se contentam em reproduzir o que outros escreveram há séculos. Presos às molduras de suas escolas teológicas, não conseguem admitir que haja outros ângulos de leitura das Escrituras. Convivem com uma teologia pronta. Não enxergam sua pobreza porque acreditam que basta aprofundarem um conhecimento “científico” da Bíblia e desvendarão os mistérios de Deus. A aridez fundamentalista exaure as minhas forças.

Canso com os estereótipos pentecostais. Como é doloroso observá-los: sem uma visitação nova do Espírito Santo, buscam criar ambientes espirituais com gritos e manifestações emocionais. Não há nada mais desolador que um culto pentecostal com uma coreografia preservada, mas sem vitalidade espiritual. Cansei, inclusive, de ouvir piadas contadas pelos próprios pentecostais sobre os dons espirituais.

Cansei de ouvir relatos sobre evangelistas estrangeiros que vêm ao Brasil para soprar sobre as multidões. Fico abatido com eles porque sei que provocam que as pessoas “caiam sob o poder de Deus” para tirar fotografias ou gravar os acontecimentos e depois levantar fortunas em seus países de origem.

Canso com as perguntas que me fazem sobre a conduta cristã e o legalismo. Recebo todos os dias várias mensagens eletrônicas de gente me perguntando se pode beber vinho, usar “piercing”, fazer tatuagem, se tratar com acupuntura etc., etc. A lista é enorme e parece inexaurível. Canso com essa mentalidade pequena, que não sai das questiúnculas, que não concebe um exercício religioso mais nobre; que não pensa em grandes temas. Canso com gente que precisa de cabrestos, que não sabe ser livre e não consegue caminhar com princípios. Acho intolerável conviver com aqueles que se acomodam com uma existência sob o domínio da lei e não do amor.

Canso com os livros evangélicos traduzidos para o português. Não tanto pelas traduções mal feitas, tampouco pelos exemplos tirados do golfe ou do basebol, que nada têm a ver com a nossa realidade. Canso com os pacotes prontos e com o pragmatismo. Já não agüento mais livros com dez leis ou vinte e um passos para qualquer coisa. Não consigo entender como uma igreja tão vibrante como a brasileira precisa copiar os exemplos lá do norte, onde a abundância é tanta que os profetas denunciam o pecado da complacência entre os crentes. Cansei de ter de opinar se concordo ou não com um novo modelo de crescimento de igreja copiado e que vem sendo adotado no Brasil.

Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia sofrível e, pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento. Quão diferente do dia em que me sentei na Sala São Paulo para ouvir a música que Johann Sebastian Bach (1685-1750) compôs sobre os últimos capítulos do Evangelho de São João. Sob a batuta do maestro, subimos o Gólgota. A sala se encheu de um encanto mágico já nos primeiros acordes; fechei os olhos e me senti em um templo. O maestro era um sacerdote e nós, a platéia, uma assembléia de adoradores. Não consegui conter minhas lágrimas nos movimentos dos violinos, dos oboés e das trompas. Aquela beleza não era deste mundo. Envoltos em mistério, transcendíamos a mecânica da vida e nos transportávamos para onde Deus habita. Minhas lágrimas naquele momento também vinham com pesar pelo distanciamento estético da atual cultura evangélica, contente com tão pouca beleza.

Canso de explicar que nem todos os pastores são gananciosos e que as igrejas não existem para enriquecer sua liderança. Cansei de ter de dar satisfações todas as vezes que faço qualquer negócio em nome da igreja. Tenho de provar que nossa igreja não tem título protestado em cartório, que não é rica, e que vivemos com um orçamento apertado. Não há nada mais desgastante do que ser obrigado a explanar para parentes ou amigos não evangélicos que aquele último escândalo do jornal não representa a grande maioria dos pastores que vivem dignamente.

Canso com as vaidades religiosas. É fatigante observar os líderes que adoram cargos, posições e títulos. Desdenho os conchavos políticos que possibilitam eleições para os altos escalões denominacionais. Cansei com as vaidades acadêmicas e com os mestrados e doutorados que apenas enriquecem os currículos e geram uma soberba tola. Não suporto ouvir que mais um se auto-intitulou apóstolo.

Sei que estou cansado, entretanto, não permitirei que o meu cansaço me torne um cínico. Decidi lutar para não atrofiar o meu coração.

Por isso, opto por não participar de uma máquina religiosa que fabrica ícones. Não brigarei pelos primeiros lugares nas festas solenes patrocinadas por gente importante. Jamais oferecerei meu nome para compor a lista dos preletores de qualquer conferência. Abro mão de querer adornar meu nome com títulos de qualquer espécie. Não desejo ganhar aplausos de auditórios famosos.

Buscarei o convívio dos pequenos grupos, priorizarei fazer minhas refeições com os amigos mais queridos. Meu refúgio será ao lado de pessoas simples, pois quero aprender a valorizar os momentos despretensiosos da vida. Lerei mais poesia para entender a alma humana, mais romances para continuar sonhando e muita boa música para tornar a vida mais bonita. Desejo meditar outras vezes diante do pôr-do-sol para, em silêncio, agradecer a Deus por sua fidelidade. Quero voltar a orar no secreto do meu quarto e a ler as Escrituras como uma carta de amor de meu Pai.

Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se é o seu caso, convido-o então a mudar a sua agenda; romper com as estruturas religiosas que sugam suas energias; voltar ao primeiro amor. Jesus afirmou que não adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma. Ainda há tempo de salvar a nossa.

Soli Deo Gloria.

Publicado por Pr. Ricardo Gondim, Assembléia de Deus Betesda

quinta-feira, 6 de março de 2008

A TÁTICA PAPA-LÉGUAS



Fonte: Não tenho fé o suficiente para ser ateu
(Norman Geisler e Frank Turek).

A tática do papa-léguas estabelece o princípio da não-contradição e ajuda a expor uma afirmação falsa em si mesma, tão comum nos dias de hoje. Isso inclui afirmações como:
"Não existe verdade !" (isso é verdade ?);
"Toda verdade é relativa !" (essa verdade é relativa ?) e
"Você não pode conhecer a verdade !" (então como você sabe isso ?).
Basicamente, qualquer declaração que não possa ser afirmada (porque contradiz a si mesma) deve ser falsa. Os relativistas são derrotados por sua própria lógica. Uma afirmação falsa em si mesma é aquela que não satisfaz o seu próprio padrão. Por exemplo se a afirmação "Não existe verdade" - pretende ser verdadeira e, portanto, derrota a si mesma. É como se um estrangeiro dissesse: "Eu não consigo falar uma palavra sequer em português!". Afirmações falsas em si mesmas são feitas rotineiramente em nossa cultura pós-moderna, e, uma vez que você tenha uma capacidade aguçada de detectá-las, se tornará um defensor absolutamente intrépido da verdade. Sem dúvida, você já ouviu pessoas dizerem coisas como "Toda verdade é relativa !" e "Não existem absolutos !". Agora você estará armado para refutar tais afirmações tolas simplesmente revelando que elas não satisfazem os seus próprios critérios. Em outras palavras, ao lançar uma afirmação falsa em si mesma contra ela própria, você pode expô-la pela falta de sentido que demonstra.
Tática do papa-léguas vai à universidade.

Por que a tática do papa-léguas é especialmente necessária aos estudantes universitários de hoje ?
Porque muitos de nossos professores universitários vão dizer que não existe verdade. O que nos surpreende é que os pais ao redor do mundo estão literalmente pagando muito dinheiro em educação universitária para que seus filhos aprendam que a "verdade" é que não existe verdade, isso sem falar de outras afirmações pós-modernas falsas em si mesmas, como:
"Toda a verdade é relativa" (essa verdade é relativa ?);
"Não existem absolutos" (você está absolutamente certo disso ?) e
"É verdade para você, mas não é verdade para mim !" (essa afirmação é verdadeira apenas para você ou para todo mundo ?)
"É verdade para você, mas não é para mim" pode ser o mantra de nossos dias, mas o mundo não funciona realmente assim. Naturalmente esses mantras modernos são mentirosos porque são afirmações falsas em si mesmas. Mas temos algumas perguntas para aqueles que ainda acreditam cegamente neles: se realmente não existe verdade, então...
....por que tentar aprender alguma coisa ?
....por que um aluno deveria dar ouvidos a um professor ?
Afinal, o professor não tem a verdade. Qual é o objetivo de ir à escola, quanto mais de pagar por ela ?
Qual é o objetivo de obedecer às proibições morais de um professor quanto a colar nas provas ou plagiar trabalhos de outras pessoas ?
As idéias têm conseqüências. Boas idéias têm boas conseqüências e más idéias tem más conseqüências. O fato é que muitos alunos percebem as implicações dessas más idéias pós-modernas e comportam-se de acordo com elas. Se ensinarmos aos alunos que não existe certo ou errado, por que deveríamos nos surpreender com o fato de um grupo de alunos atirar em seus colegas de classe ou de ver uma mãe adolescente abandonando o filho numa lata de lixo ? Por que eles deveriam agir da maneira "certa" quando nós ensinamos que não existe essa coisa de "certo" ?A verdade disso tudo é a seguinte: idéias falsas sobre a verdade levam a falsas idéias sobre a vida.

Em muitos casos, essas falsas idéias dão aparente justificativa para aquilo que é, na verdade, um comportamente imoral. Se você puder matar o conceito de verdade, então poderá matar o conceito de qualquer religião ou moralidade verdadeiras. Muitas pessoas de nossa cultura têm tentado fazer isso, e os últimos 40 anos de declínio moral e religioso demonstram seu sucesso. Infelizmente, as devastadoras conseqüências de seus esforços não são apenas verdade para eles, mas também para todos nós. Portanto, a verdade existe. Ela não pode ser negada. Aqueles que negam a verdade fazem a afirmação falsa em si mesma de que não existe verdade. Nesse aspecto, eles são muito semelhantes ao Ursinho Puff: respondem a uma batida na porta dizendo "não há ninguém em casa !".

Hoje em dia muitas pessoas inventam suas próprias verdades ou acham que por acreditar sinceramente em alguma coisa a torna verdade. Uma das frases mais usadas hoje é: "É verdade para você mas não é verdade para mim !". Bem, é isso o que nós vamos ver ! Eis algumas verdades sobre a verdade !
Winston Churchill – De tempos em tempos, os homens tropeçam na verdade, mas a maioria deles se levanta e segue adiante como se nada tivesse acontecido.
1 - A verdade é descoberta, e não inventada. Ela existe independentemente do conhecimento que uma pessoa tenha dela (a lei da gravidade existia antes de Newton).
2 - A verdade é transcultural. Se alguma coisa é verdadeira, então ela é verdade para todas as pessoas, em todos os lugares, em todas as épocas (2+2 = 4 para todo o mundo, em todo lugar, o tempo todo).
3 - A verdade é imutável, embora nossas crenças sobre a verdade possam mudar (quando começamos a acreditar que a Terra era redonda, em vez de plana, a verdade sobre a Terra não mudou; o que mudou foi nossa crença sobre a forma da Terra).
4 - As crenças não podem mudar um fato, não importa com que seriedade elas sejam esposadas (alguém pode sinceramente acreditar que o mundo é plano, mas isso faz apenas a pessoa estar sinceramente errada).
5 - A verdade não é afetada pela atitude de quem a professa (uma pessoa arrogante não torna falsa a verdade que ela professa. Uma pessoa humilde não faz o erro que ela professa transformar-se em verdade).
6 - Todas as verdades são verdades absolutas. Até mesmo as verdades que parecem ser relativas são realmente absolutas

terça-feira, 11 de setembro de 2007

ABORTO?!?!??! NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

"NÃO JULGUEIS SEGUNDO A APARÊNCIA...."


"... MAS JULGUAI SEGUNDO A RETA JUSTIÇA" JOÃO 7:14

APARÊNCIA UNDERGROUND

Aparência do mal?

“Abstende-vos de toda aparência do mal.” I Tessalonicenses 5:22.


Se você é um cristão underground, provavelmente já teve esse versículo distorcido e cuspido na sua cara em muitas ocasiões. Há alguns na igreja que não suportam a doutrina sã e para colocar pedras de tropeço no caminho de seus irmãos e irmãs, eles tiram as Escrituras de contexto e usam-na para condená-los.

Estão os undergrounds falhando em abster-se da aparência do mal por vestir preto, tingir os cabelos, colocar maquiagem, ou qualquer coisa que eles fazem? Se você acha que sim, então talvez você deva ler o resto deste artigo.

No Contexto

Existe um ditado conhecido entre os teólogos que diz o seguinte: "Texto fora de contexto é pretexto!"

Antes de tudo, devemos levar este trecho das Escrituras em contexto e então definir o que significa “aparência” e o que significa “mal”.

Vamos começar por lendo a passagem onde o versículo 22 aparece: (em três versões bíblicas)

Bíblia Almeida
19 Não extingais o Espírito.
20 Não desprezei as profecias.
21 Provai tudo. Retende o bem.
22 Abstende-vos de toda aparência do mal.

Nova Versão Internacional Português
19 Não apaguem o Espírito.
20 Não tratem com desprezo as profecias,
21 mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom.
22 Afastem-se de toda forma de mal.

IBS
19 Não entravem a acção do Espírito de Deus.
20 Não desprezem as profecias,
21 mas examinem tudo o que é dito. Guardem o que for bom.
22 Evitem qualquer espécie de mal.

O apóstolo Paulo, que escreveu Tessalonicenses, uma carta para a igreja em Tessalônica, começou no versículo 19 uma discussão sobre o Espírito Santo. Ele ordenou para os crentes de Tessalônica para não inibir o trabalho do Espírito Santo na igreja e permitir a outros crentes profetizarem se eles recebessem uma mensagem profética. Entretanto Paulo advertiu aos Tessalonicenses cristãos para que testassem as profecias com a Palavra de Deus.

A versão Almeida não tem o sentido mais fiel e exato da palavra, porque o português mudou muito desde que a Almeida apareceu (1681).
Enquanto lá diz “prove” todas as coisas, quer dizer “ponha a prova” todas as coisas. Se “prove” fosse a tradução correta da palavra, então significa que os cristãos têm que provar a validez de uma profecia, se ou não essa é real. Então, como você pode ver as arcaicas palavras usadas na Almeida não são “exatas” hoje em dia. A mesma coisa vale para a palavra “aparência”, usada na Almeida.

Traduções como a NVI e a IBS mudaram a palavra para “toda forma” e “qualquer espécie” de mal. Paulo escreveu suas cartas na língua grega, então, quando voltamos aos originais, vemos que Paulo usou a palavra “eidos”. Que é mais exatamente traduzida como “formato” ou “forma, modo”. Não tem nada a ver com estilo de vestir-se ou os pigmentos usados na pele. E o que ele quer dizer quando fala “mal”? Voltando aos originais, a palavra do versículo 22 para mal é “poneros”, que não significa “roupas pretas, cabelos pretos, maquiagem branca, jóias de prata, etc.”. A palavra era usada como “calamidade, doença, malícia, culpa, pecaminosidade, dor, prejuízo, ou lascívia”. Mas eu não estou dizendo que os undergrounds não podem ser danosos, lascivos, etc., estou dizendo que o “underground” não é nada disso. O underground comum não é mais pecador que o comum underground. De fato, os alguns undergrounds são as pessoas mais calmas, pacifistas e tolerantes da sociedade ocidental.

Mal?


Então, já estabelecemos que o underground não se adequou à definição de “mal” como é usada em I Tessalonicenses 5:22, e que “aparência” não está falando de aparência externa (como o estilo de vestir-se).

Então, o que uma pessoa do século 17 quer dizer com “aparência do mal”? Ela significa evitar o mal (lascívia, malícia, prejuízo, etc.) e de qualquer tipo ou forma. Não tem nada a ver com o estilo underground de vestir-se (desde que o estilo underground de vestir-se não estava totalmente desenvolvido até os anos 80). O apostolo Paulo estava avisando aos Tessalonicenses para que evitassem as profecias más em particular "mas ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom. Afastem-se de toda forma de mal."

Quando alguém olha a passagem em contexto, as coisas começam a fazer um pouco mais de sentido. Mas então a questão chega em: vestir-se no estilo underground é uma forma de mal?

Algo curioso : uma das pinturas mais antigas de Jesus (uma pintura do século VI no Monastério de Sta. Catarina no Sinai) mostra Jesus vestido de preto. [ao lado]

Aparência


Também, outro fato é este: “O próprio Satanás persiste em transformar-se em um anjo de luz”, II Coríntios 11:14. Então, nós podemos concluir só uma coisa - que sua aparência não lhe faz mais ou menos santo que você já é. Se sua cor favorita é azul, vermelha, rosa, branca, ou preta, Deus não se preocupa (mas isto, claro que, não desculpa ninguém de usar roupa sexualmente sugestiva ou imoral).

Desde que a aparência de Satanás é como um anjo de luz, isso o faz santo? E se Jesus, provavelmente, usou preto ao menos em um momento de sua vida, isso lhe fez então menos santo? Claro que não!

Paulo também escreveu em Tito 1:15, "Todas as coisas são puras para os puros, mas para os aviltados e os sem fé, nada é puro. Porém tanto as suas mentes como as suas consciências estão aviltadas." Para aqueles que têm mentes impuras com o ódio, fanatismo e ciúme, o estilo underground parece impuro, porque é tudo que eles querem ver. As pobres pessoas que foram criadas em ricas e belas casas, sendo doutrinadas com todos os estereótipos das gerações prévias não podem ver as coisas como elas são, porque elas já tiveram isto enfiado nas suas mentes: qualquer um que não conforma a sociedade é estranho e ruim.

Sheri Luckey Watters, da banda cristã de música gótica, "Wedding Party," falou,
- "Um diácono de uma faculdade bíblica me falou uma vez que o modo como eu me visto não era conducente à Caminhada Cristã. Foi então quando eu lhe falei que eu tinha estado ao redor da máfia na Flórida e eles usavam ternos e gravatas e eram assassinos e a roupa deles não era mais santa que a minha."

O fato que você não pode julgar alguém baseado no que eles vestem está nas Escrituras. Em I Samuel 16:7, está escrito, "Mas o Senhor disse a Samuel: 'Não olhes para a sua aparência [...] Porque não como o homem vê é o modo de Deus ver, pois o mero homem vê o que aparece aos olhos, mas quanto ao Senhor, Ele vê o que o coração é."

Concluindo

Então, à luz destas coisas, por favor, guardem em suas mentes que vocês vão encontrar cristãos de todos os tipos ao redor do mundo. Tenha cuidado em não julgar as pessoas com estereótipos, "pois, com o julgamento com que julgais, vós sereis julgados; e com a medida que medires, medirão a vós." (Mateus 7:2).

† O QUE É VAIDADE ?! †


O que é e o que não é vaidade
(estudo retirado do livro "É proibido, o que a bíblia permtie e a igreja proíbe",
Ricardo Gondim, capítulo 4, pág's 44- 52)

As igrejas evangélicas brasileiras têm grande dificuldade de compreender o termo "vaidade" que, no jargão próprio do mundo dos crentes, carrega toda uma conotação pejorativa. Gostar de vestir-se com esmero, adornar-se com qualquer jóia ou cuidar do cabelo, tingindo-o ou penteando-o de alguma forma estética, é considerado pecado na maioria das nossas igrejas. O texto apresentado como base bíblica para tal conclusão é o Salmo 24:3-4:

Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. (Bíblia Almeida, edição corrigida e revisada)

Precisamos estudar a palavra "vaidade" no original hebraico e grego, compararmos as várias vezes em que ela é usada na Escritura e qual o verdadeiro sentido que esse vocábulo possuía nos tempos antigos.

Vaidade no hebraico advém de duas palavras. Primeiro, de habel, que significa vazio, oco. Seu uso no Antigo Testamento estava muito relacionado ao abandono do único Deus verdadeiro e à busca de ídolos que não podiam satisfazer às necessidades de Israel pelo simples fato de não existirem. A adoração a ídolos, então, tornouse sinônimo de vaidade, pois era como se o povo israelita estivesse buscando ajuda no vazio:

Rejeitaram os estatutos e a aliança que fizera com seus pais, como também as suas advertências com que protestara contra eles; seguiram os ídolos e se tornaram vãos, e seguiram as nações que estavam em derredor deles, das quais o Senhor lhes havia ordenado que não as imitassem. (2 Rs 17:15)
A segunda palavra hebraica era shav, que assumia uma conotação também de vazio, mas com uma compreensão mais ligada à desolação, abandono. Jó usa essa 45 expressão quando se sente vazio, pois se vê abandonado e percebe sua vida esvairse em nada. A palavra sopro, no texto abaixo, é a mesma palavra hebraica traduzida por vaidade:

Estou farto da minha vida; não quero viver para sempre. Deixa-me, pois, porque os meus dias são um sopro. (Jó 7:16)
No grego, vaidade é representada pelo substantivo mataiotes e também significa vazio. Não há qualquer relação entre vaidade e o uso de jóias, roupas ou ornamentos. Seu significado, em primeiro lugar, refere-se ao mundo criado que, no pecado e sem preencher o propósito inicial para o qual foi criado, tornou-se vazio:
Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou. (Rm 8:20, Bíblia Almeida, edição corrigida e revisada)
Vaidade - mataiotes - é também usada por Paulo para expor a forma de pensar e o estilo de vida dos gentios, que não conhecem a Deus:
Isto, portanto, digo e no Senhor testifico, que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos. (Ef 4:17)
Vaidade- mataiotes- também podia denotar as palavras impressionantes, mas vazias, de falsos mestres que muito falam, mas não possuem conteúdo nenhum:
Porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro. (2 Pe 2:18)
Portanto, há muita firmeza em afirmar que, quando a Bíblia fala de vaidade, seu significado é sempre sopro, efemeridade, algo vazio. Daí o Salmo 39:5 declarar:
Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença o prazo da minha vida é nada. Na verdade, todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade.

Salomão também usa a palavra vaidade nesse sentido de algo vazio, oco. Quando escreveu o livro de Eclesiastes, cansado e profundamente amargo com a vida, ele concluiu, de um modo sarcástico, em diversos pontos do texto que:
Vaidade de vaidades! diz o Pregador; vaidade de vaidades! Tudo é vaidade. (Ec 1:2)

Observe que, na lógica do apóstolo Paulo, vaidade é colocar esperança naquilo que é vão, passageiro, perecível. Ele, então, fala em viver sua vida à luz da eternidade:

Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. (Fp 3:14)

Paulo vivia sob o postulado de que as coisas importantes são aquelas que não se vêem, pois tudo o que os nossos olhos contemplam um dia passará. Sendo assim, para o apóstolo o que é finito deveria ser considerado vaidade:

Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem, porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. (2 Co 4:18)

A vaidade exterior e interior

As normas de conduta do cristianismo neotestamentário parecem mais interessadas no interior do que no exterior dos homens. A palavra "vaidade" não é um termo que descreve uma pessoa cuidadosa de vestimenta ou de adornos do corpo; pelo contrário, esse vocábulo refere-se ao modo de viver de uma pessoa que busca valorizar-se através de meios terrenos e passageiros. As palavras de Paulo deveriam ser sublinhadas em todas as Bíblias, para que não haja uma má compreensão do que significa vaidade:
Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças; não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas cousas, com o uso, se destroem. Tais cousas, com efeito, têm
1. faz-nos juizes da lei muitas vezes, quando estamos julgando nosso irmão por causa da sua postura exterior, podemos estar julgando mal. Isto porque não temos condições de conhecer o coração das pessoas. Uma pessoa pode aparentar muita piedade por causa de sua indumentária, mas o seu coração pode estar completamente contrário a Deus. Há diversos casos na Bíblia em que a postura exterior das pessoas contradizia o seu estado interior. Saul, que era tão belo (1 Sm 9:2), "que entre os filhos de Israel não havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima", mostrou que interiormente seu coração era feio. Ao profetizar com os outros profetas (1 Sm 10:10), mostrou claramente aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e falsa humildade, e rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade. (Cl 2:20-23)
Essa busca de estipular a vaidade de um coração, julgando o valor que uma determinada pessoa empresta aos ornamentos, pode tornar-se uma obsessão doentia. Além do mais, há vários inconvenientes nessa postura: que o uso dos dons e talentos religiosos nada tem a ver com verdadeira espiritualidade. Quando se escondeu na bagagem (1 Sm 10:22), mostrou uma aparência de humildade, mas se sabe que, na verdade, Saul era uma pessoa muito insegura.
Há outros casos em que as pessoas aparentemente desqualificadas pelo seu porte e aparência exterior são plenamente aceitas por Deus. Quando Jesus entrou na casa de Simão, o fariseu (Lc 7:36-38), uma mulher aproximou-se por detrás do Senhor, chorando, regando-lhe os pés com suas lágrimas, enxugando-os cornos próprios cabelos e ungindo-os com ungüento.
Ao ver isso, o fariseu logo julgou a pobre mulher pela sua aparência exterior e pela sua reputação (que também é um juízo meramente exterior); como se não bastasse, disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora. Jesus então confrontou Simão, afirmando que este, mesmo tendo toda a aparência e forma religiosa, estava seco por dentro.

Aquela mulher, todavia, ainda que possuidora de uma baixa reputação, era rica interiormente. A aplicação prática daquele evento é avassaladora: "Perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama(v.47)".
Esforçar-se para julgar uma pessoa pela sua maneira de vestir é um exercício inútil, porquanto o profeta Jeremias (17:9) nos afirma que "enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?". O cuidado com as vestimentas e adornos pode não revelar um coração tendente a valores mundanos, visto que pode ser apenas um traço cultural ou próprio de um tipo de personalidade. Portanto, devemos ter o máximo cuidado para não incorrer na tentação de Tiago 4:11-12:
Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do seu irmão, ou julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas ao próximo?
2. Legislar sobre quais vestimentas são ou não "vaidosas" leva-nos a um nível de legalismo sufocante. Há igrejas com normas comportamentais sobremodo asfixiantes. O manual de "Regulamento Interno" para membros de uma dessas denominações contém tantas proibições, e procura legislar sobre tantos aspectos da vida cristã, que até os fariseus estranhariam. Uma das páginas que iniciam o referido opúsculo apresenta determinações que causam perplexidade: É permitido o uso de ombreira para irmãos e irmãs, porque a ombreira é parte complementar do vestuário. Também é permitido o uso de meia-calça, meias de lã, desde que não sejam de cores berrantes ou que chame (sic) a atenção, 1 Ts 5:23. A saia jeans só c permitido (sic) no lugar de trabalho, desde que não seja escandalosa, 1 Ts 5:23. Sobre usar roupas vermelhas e pretas, é
permitido para mulher. Ao homem, entretanto, ficam proibidas roupas vermelhas, Tg 4:4. É permitido a (sic) mulher usar presilhas no cabelo, desde que não haja exagero; também é permitido usar correntes para segurar os óculos, desde que haja necessidade. O uso de perfumes para o homem e a (sic) mulher é permitido, pois o Nosso Jesus também foi perfumado, Mc 14:3, Mt 26:7.O uso de lenço na cabeça pelas irmãs é permitido (sic). Os irmãos usarem gravatas vermelhas ou cores berrantes não é permitido. O uso de perneira (sic) para asirmãs é permitido. Fica proibido o uso de camisetas com estampas mundanase dizeres em português ou qualquer outra língua, a não ser dizeres bíblicos ouda IPDA, 1 Co 14:40. As saias e os vestidos das irmãs (sic) deverão cobrir osjoelhos mesmo sentadas. Não é permitido o uso de roupa longa, tipo roupa de gala, pois isso já é exagero, e o uso de tênis para o (sic) homem e mulher só é
permitido para o trabalho ou em casa.

Quanto ao assobiar é permitido, se for para louvar a Deus, Zc 10:8 e Sl 150:6. Sobre amigo secreto, brincadeira que se faz normalmente no Natal ou final do (sic) ano ou em época de festa, não é permitido, pois se trata de algo mundano, 1 Jo 2:15-17. Estipular que um tipo de ornamento no corpo é vaidade, mas um quadro que coloco na parede de minha casa para ornamentá-la não, pode indicar, no mínimo, uma postura incoerente. Os lustres que usamos para decorar as luzes que iluminam nossas casas não seriam também uma espécie de vaidade?
Uma miríade de perguntas surgem imediatamente quando se pensa na questão da vaidade. Por exemplo: Não seria o uso da gravata uma vaidade? A gravata surgiu em culturas de clima frio como uma espécie de cachecol que esquentava o pescoço. Entretanto, devido a ter sido estilizada e aperfeiçoada a ponto de perder sua função inicial, tornou-se mero adorno no pescoço dos homens. Em um país de clima tropical como o Brasil, a gravata não possui utilidade nenhuma senão adornar. Há ainda aqueles quatro botões que enfeitam as mangas dos paletós dos homens; qual a utilidade deles, já que não servem para abotoar nada? São meros adornos.
Aliás, qualquer botão, desde que esteja exposto, serve para adornar. Quem quiser legislar sobre a vaidade sucumbirá por gerar uma paranóia, visto que, ao ter de lidar com inúmeras questões, acabará sendo incoerente. Dizer que uma mulher que usa jóias é vaidosa, mas comprar um carro cheio de frisos niquelados e de cores berrantes não é farisaísmo? Teríamos de arbitrar sobre os enfeites que deveriam fazer parte dos nossos óculos, quais cores seriam permitidas nas nossas roupas, ou seja, estaríamos presos a um exasperante sistema de fiscalização de nossa conduta. Seríamos, em última análise, roubados da liberdade em Cristo.
3. Buscar em roupas e adornos uma forma de agradar a Deus é inútil e pode levar a um conceito de salvação pelas obras.
Podemos sofrer o que sofreram os gálatas. A igreja da Galácia estava sendo impregnada de fariseus convertidos. A heresia deles era tão sutil, que Paulo precisou escrever uma das suas mais duras cartas. Eles não chegavam a afirmar que a cruz não possuía poder para salvar, diziam apenas que além da cruz era necessário a circuncisão. Paulo, veementemente, contradiz essa heresia asseverando que, se alguma coisa for acrescentada à cruz, será anulado todo o poder que dela procede.
...mas agora que conheceis a Deus, ou antes, sendo conhecidos por Deus, como estais voltando outra vez aos rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis ainda escravizar-vos? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. (Gl 4:9-10)
4. Gerar confusão sobre o que é na verdade mundanismo. Levantar a questão da vaidade para provar que as pessoas que usam adornos e roupas da moda amam o mundo, significa confundir a real acepção que a Bíblia atribui ao vocábulo "mundo". Há uma necessidade clara de entendermos o imperativo bíblico "não ameis o mundo", pois há uma punição muito séria para aqueles que desobedecem a esse mandamento; seria importante lermos a exortação em seu contexto:
Não ameis o mundo nem as cousas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternament e. (1 Jo 2:15-17)
Logicamente esse mundo a que João se refere não se trata do mundo natural (físico), pois o mundo criado por Deus é muito bom. Embora caído e sofrendo os efeitos da queda, o mundo natural aguarda o dia da redenção e geme na expectativa de ser restabelecido das conseqüências do pecado humano:
Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação a um só tempo geme e suporta angústias até agora. (Rm 8:20-22)
O mundo que devemos odiar também não é o mundo humano, pois a este o próprio Deus declara o seu amor. O texto de João 3:16, o mais conhecido do mundo evangélico, declara peremptoriamente que Deus ama o mundo com um amor infinito.
Então, qual mundo devemos odiar? A resposta a essa pergunta trará nova luz sobre toda a subcultura de proibições no meio evangélico (desde os tipos de diversão, até às vestimentas que são ou não permitidas ao crente). O mundo é descrito na Bíblia como um sistema (cosmos) que se opõe ao reino de Deus. Paulo chega a dizer que esse mundo manifesta-se através dos sistemas de pensamento que rejeitam a verdade:
Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e, sim, poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo. (2 Co 10:4-5)
O mundo é todo o sistema que se desenvolve na cultura e que leva, legitimado pelo egocentrismo do homem, ao exagerado e desmedido desejo da carne e dos olhos. É o adoecimento de toda produção humana e a manifestação do desejo doentio de poder. Está em relevo na ânsia obcecada por prosperidade. É também a necessidade de seduzir o próximo através do sexo ou do dinheiro. Não somente isso, pois pode ser também a busca de poder eclesiástico de algumas elites evangélicas, ou até mesmo a gula.
Todos temos um amor próprio. Uma dignidade intrínseca. Esse sentido de valorização nos foi dado por Deus. É por causa dele que sentimos necessidade de nos vestir e cheirar bem. Quando nos vestimos desejamos agradar os olhos de quem nos admira; todos nos sentimos bem quando somos valorizados e admirados. Sabemos que ninguém gosta de estar perto de uma pessoa com roupas sujas, que não escovou os dentes pela manhã ou que não cuida bem da higiene de seus pés.
Lavamo-nos por um sentido de autovalorização, nos trajamos por que entendemos que em nossa cultura aquela indumentária será mais bem aceita. Quando vamos a uma festa de casamento nos enfeitamos porque consideramos que aquela data requer que estejamos o mais bonito possível. Se isso é vaidade, ela é aceita e estimulada por Deus. Não há qualquer relação desta busca com aquele sentimento pernicioso de querer apoiar nossa existência no que é vazio.
Limitar o conceito de mundo ao desejo de vestir-se bem é adotar uma visão muito reduzida daquilo que o vocábulo representa em toda a Escritura.
Para Jesus vaidade também é sinônimo do que é vão. Ele associa o que é vão à prece dos gentios que pensam que serão ouvidos pelo muito falar (Mt 6:7). Ele considera vaidade a piedade dos fariseus: E em vão (com vaidade) me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. E, tendo convocado a multidão, lhes disse: Ouvi e entendei: não é
o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim contamina o homem. (Mt 15:9-11)
O conceito popular de vaidade é declarado na Bíblia pela expressão composta de vangloria:
Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. (Fp 2:3)
Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros. (Gl 5:26)
Assim aprendemos que vaidade é objetivamente descrita com o sentido de vazio, inutilidade e falta de consistência. Todas as vezes que buscarmos nossa identidade no que for irreal estamos sendo vaidosos. Não há necessidade de se estabelecer uma relação direta com adornos, roupas ou bens materiais. O exercício do ministério, oração, e até boas obras podem, em alguns casos, também ser vaidade e um correr inútil em direção ao vento.