sexta-feira, 14 de março de 2008

CANSEI

Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensina que Deus restaura as forças do que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista. Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.

Não, não me afadiguei com Deus ou com minha vocação. Continuo entusiasmado pelo que faço; amo o meu Deus, bem como minha família e amigos. Permaneço esperançoso. Minha fadiga nasce de outras fontes.

Canso com o discurso repetitivo e absurdo dos que mercadejam a Palavra de Deus. Já não agüento mais que se usem versículos tirados do Antigo Testamento e que se aplicavam a Israel para vender ilusões aos que lotam as igrejas em busca de alívio. Essa possibilidade mágica de reverter uma realidade cruel me deixa arrasado porque sei que é uma propaganda enganosa. Cansei com os programas de rádio em que os pastores não anunciam mais os conteúdos do evangelho; gastam o tempo alardeando as virtudes de suas próprias instituições. Causa tédio tomar conhecimento das infinitas campanhas e correntes de oração; todas visando exclusivamente encher os seus templos. Considero os amuletos evangélicos horríveis. Cansei de ter de explicar que há uma diferença brutal entre a fé bíblica e as crendices supersticiosas.

Canso com a leitura simplista que algumas correntes evangélicas fazem da realidade. Sinto-me triste quando percebo que a injustiça social é vista como uma conspiração satânica, e não como fruto de uma construção social perversa. Não consideram os séculos de preconceitos nem que existe uma economia perversa privilegiando as elites há séculos. Não agüento mais cultos de amarrar demônios ou de desfazer as maldições que pairam sobre o Brasil e o mundo.

Canso com a repetição enfadonha das teologias sem criatividade nem riqueza poética. Sinto pena dos teólogos que se contentam em reproduzir o que outros escreveram há séculos. Presos às molduras de suas escolas teológicas, não conseguem admitir que haja outros ângulos de leitura das Escrituras. Convivem com uma teologia pronta. Não enxergam sua pobreza porque acreditam que basta aprofundarem um conhecimento “científico” da Bíblia e desvendarão os mistérios de Deus. A aridez fundamentalista exaure as minhas forças.

Canso com os estereótipos pentecostais. Como é doloroso observá-los: sem uma visitação nova do Espírito Santo, buscam criar ambientes espirituais com gritos e manifestações emocionais. Não há nada mais desolador que um culto pentecostal com uma coreografia preservada, mas sem vitalidade espiritual. Cansei, inclusive, de ouvir piadas contadas pelos próprios pentecostais sobre os dons espirituais.

Cansei de ouvir relatos sobre evangelistas estrangeiros que vêm ao Brasil para soprar sobre as multidões. Fico abatido com eles porque sei que provocam que as pessoas “caiam sob o poder de Deus” para tirar fotografias ou gravar os acontecimentos e depois levantar fortunas em seus países de origem.

Canso com as perguntas que me fazem sobre a conduta cristã e o legalismo. Recebo todos os dias várias mensagens eletrônicas de gente me perguntando se pode beber vinho, usar “piercing”, fazer tatuagem, se tratar com acupuntura etc., etc. A lista é enorme e parece inexaurível. Canso com essa mentalidade pequena, que não sai das questiúnculas, que não concebe um exercício religioso mais nobre; que não pensa em grandes temas. Canso com gente que precisa de cabrestos, que não sabe ser livre e não consegue caminhar com princípios. Acho intolerável conviver com aqueles que se acomodam com uma existência sob o domínio da lei e não do amor.

Canso com os livros evangélicos traduzidos para o português. Não tanto pelas traduções mal feitas, tampouco pelos exemplos tirados do golfe ou do basebol, que nada têm a ver com a nossa realidade. Canso com os pacotes prontos e com o pragmatismo. Já não agüento mais livros com dez leis ou vinte e um passos para qualquer coisa. Não consigo entender como uma igreja tão vibrante como a brasileira precisa copiar os exemplos lá do norte, onde a abundância é tanta que os profetas denunciam o pecado da complacência entre os crentes. Cansei de ter de opinar se concordo ou não com um novo modelo de crescimento de igreja copiado e que vem sendo adotado no Brasil.

Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia sofrível e, pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento. Quão diferente do dia em que me sentei na Sala São Paulo para ouvir a música que Johann Sebastian Bach (1685-1750) compôs sobre os últimos capítulos do Evangelho de São João. Sob a batuta do maestro, subimos o Gólgota. A sala se encheu de um encanto mágico já nos primeiros acordes; fechei os olhos e me senti em um templo. O maestro era um sacerdote e nós, a platéia, uma assembléia de adoradores. Não consegui conter minhas lágrimas nos movimentos dos violinos, dos oboés e das trompas. Aquela beleza não era deste mundo. Envoltos em mistério, transcendíamos a mecânica da vida e nos transportávamos para onde Deus habita. Minhas lágrimas naquele momento também vinham com pesar pelo distanciamento estético da atual cultura evangélica, contente com tão pouca beleza.

Canso de explicar que nem todos os pastores são gananciosos e que as igrejas não existem para enriquecer sua liderança. Cansei de ter de dar satisfações todas as vezes que faço qualquer negócio em nome da igreja. Tenho de provar que nossa igreja não tem título protestado em cartório, que não é rica, e que vivemos com um orçamento apertado. Não há nada mais desgastante do que ser obrigado a explanar para parentes ou amigos não evangélicos que aquele último escândalo do jornal não representa a grande maioria dos pastores que vivem dignamente.

Canso com as vaidades religiosas. É fatigante observar os líderes que adoram cargos, posições e títulos. Desdenho os conchavos políticos que possibilitam eleições para os altos escalões denominacionais. Cansei com as vaidades acadêmicas e com os mestrados e doutorados que apenas enriquecem os currículos e geram uma soberba tola. Não suporto ouvir que mais um se auto-intitulou apóstolo.

Sei que estou cansado, entretanto, não permitirei que o meu cansaço me torne um cínico. Decidi lutar para não atrofiar o meu coração.

Por isso, opto por não participar de uma máquina religiosa que fabrica ícones. Não brigarei pelos primeiros lugares nas festas solenes patrocinadas por gente importante. Jamais oferecerei meu nome para compor a lista dos preletores de qualquer conferência. Abro mão de querer adornar meu nome com títulos de qualquer espécie. Não desejo ganhar aplausos de auditórios famosos.

Buscarei o convívio dos pequenos grupos, priorizarei fazer minhas refeições com os amigos mais queridos. Meu refúgio será ao lado de pessoas simples, pois quero aprender a valorizar os momentos despretensiosos da vida. Lerei mais poesia para entender a alma humana, mais romances para continuar sonhando e muita boa música para tornar a vida mais bonita. Desejo meditar outras vezes diante do pôr-do-sol para, em silêncio, agradecer a Deus por sua fidelidade. Quero voltar a orar no secreto do meu quarto e a ler as Escrituras como uma carta de amor de meu Pai.

Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se é o seu caso, convido-o então a mudar a sua agenda; romper com as estruturas religiosas que sugam suas energias; voltar ao primeiro amor. Jesus afirmou que não adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma. Ainda há tempo de salvar a nossa.

Soli Deo Gloria.

Publicado por Pr. Ricardo Gondim, Assembléia de Deus Betesda

quinta-feira, 6 de março de 2008

A TÁTICA PAPA-LÉGUAS



Fonte: Não tenho fé o suficiente para ser ateu
(Norman Geisler e Frank Turek).

A tática do papa-léguas estabelece o princípio da não-contradição e ajuda a expor uma afirmação falsa em si mesma, tão comum nos dias de hoje. Isso inclui afirmações como:
"Não existe verdade !" (isso é verdade ?);
"Toda verdade é relativa !" (essa verdade é relativa ?) e
"Você não pode conhecer a verdade !" (então como você sabe isso ?).
Basicamente, qualquer declaração que não possa ser afirmada (porque contradiz a si mesma) deve ser falsa. Os relativistas são derrotados por sua própria lógica. Uma afirmação falsa em si mesma é aquela que não satisfaz o seu próprio padrão. Por exemplo se a afirmação "Não existe verdade" - pretende ser verdadeira e, portanto, derrota a si mesma. É como se um estrangeiro dissesse: "Eu não consigo falar uma palavra sequer em português!". Afirmações falsas em si mesmas são feitas rotineiramente em nossa cultura pós-moderna, e, uma vez que você tenha uma capacidade aguçada de detectá-las, se tornará um defensor absolutamente intrépido da verdade. Sem dúvida, você já ouviu pessoas dizerem coisas como "Toda verdade é relativa !" e "Não existem absolutos !". Agora você estará armado para refutar tais afirmações tolas simplesmente revelando que elas não satisfazem os seus próprios critérios. Em outras palavras, ao lançar uma afirmação falsa em si mesma contra ela própria, você pode expô-la pela falta de sentido que demonstra.
Tática do papa-léguas vai à universidade.

Por que a tática do papa-léguas é especialmente necessária aos estudantes universitários de hoje ?
Porque muitos de nossos professores universitários vão dizer que não existe verdade. O que nos surpreende é que os pais ao redor do mundo estão literalmente pagando muito dinheiro em educação universitária para que seus filhos aprendam que a "verdade" é que não existe verdade, isso sem falar de outras afirmações pós-modernas falsas em si mesmas, como:
"Toda a verdade é relativa" (essa verdade é relativa ?);
"Não existem absolutos" (você está absolutamente certo disso ?) e
"É verdade para você, mas não é verdade para mim !" (essa afirmação é verdadeira apenas para você ou para todo mundo ?)
"É verdade para você, mas não é para mim" pode ser o mantra de nossos dias, mas o mundo não funciona realmente assim. Naturalmente esses mantras modernos são mentirosos porque são afirmações falsas em si mesmas. Mas temos algumas perguntas para aqueles que ainda acreditam cegamente neles: se realmente não existe verdade, então...
....por que tentar aprender alguma coisa ?
....por que um aluno deveria dar ouvidos a um professor ?
Afinal, o professor não tem a verdade. Qual é o objetivo de ir à escola, quanto mais de pagar por ela ?
Qual é o objetivo de obedecer às proibições morais de um professor quanto a colar nas provas ou plagiar trabalhos de outras pessoas ?
As idéias têm conseqüências. Boas idéias têm boas conseqüências e más idéias tem más conseqüências. O fato é que muitos alunos percebem as implicações dessas más idéias pós-modernas e comportam-se de acordo com elas. Se ensinarmos aos alunos que não existe certo ou errado, por que deveríamos nos surpreender com o fato de um grupo de alunos atirar em seus colegas de classe ou de ver uma mãe adolescente abandonando o filho numa lata de lixo ? Por que eles deveriam agir da maneira "certa" quando nós ensinamos que não existe essa coisa de "certo" ?A verdade disso tudo é a seguinte: idéias falsas sobre a verdade levam a falsas idéias sobre a vida.

Em muitos casos, essas falsas idéias dão aparente justificativa para aquilo que é, na verdade, um comportamente imoral. Se você puder matar o conceito de verdade, então poderá matar o conceito de qualquer religião ou moralidade verdadeiras. Muitas pessoas de nossa cultura têm tentado fazer isso, e os últimos 40 anos de declínio moral e religioso demonstram seu sucesso. Infelizmente, as devastadoras conseqüências de seus esforços não são apenas verdade para eles, mas também para todos nós. Portanto, a verdade existe. Ela não pode ser negada. Aqueles que negam a verdade fazem a afirmação falsa em si mesma de que não existe verdade. Nesse aspecto, eles são muito semelhantes ao Ursinho Puff: respondem a uma batida na porta dizendo "não há ninguém em casa !".

Hoje em dia muitas pessoas inventam suas próprias verdades ou acham que por acreditar sinceramente em alguma coisa a torna verdade. Uma das frases mais usadas hoje é: "É verdade para você mas não é verdade para mim !". Bem, é isso o que nós vamos ver ! Eis algumas verdades sobre a verdade !
Winston Churchill – De tempos em tempos, os homens tropeçam na verdade, mas a maioria deles se levanta e segue adiante como se nada tivesse acontecido.
1 - A verdade é descoberta, e não inventada. Ela existe independentemente do conhecimento que uma pessoa tenha dela (a lei da gravidade existia antes de Newton).
2 - A verdade é transcultural. Se alguma coisa é verdadeira, então ela é verdade para todas as pessoas, em todos os lugares, em todas as épocas (2+2 = 4 para todo o mundo, em todo lugar, o tempo todo).
3 - A verdade é imutável, embora nossas crenças sobre a verdade possam mudar (quando começamos a acreditar que a Terra era redonda, em vez de plana, a verdade sobre a Terra não mudou; o que mudou foi nossa crença sobre a forma da Terra).
4 - As crenças não podem mudar um fato, não importa com que seriedade elas sejam esposadas (alguém pode sinceramente acreditar que o mundo é plano, mas isso faz apenas a pessoa estar sinceramente errada).
5 - A verdade não é afetada pela atitude de quem a professa (uma pessoa arrogante não torna falsa a verdade que ela professa. Uma pessoa humilde não faz o erro que ela professa transformar-se em verdade).
6 - Todas as verdades são verdades absolutas. Até mesmo as verdades que parecem ser relativas são realmente absolutas